data-filename="retriever" style="width: 100%;">No final da tarde da última sexta-feira, véspera de feriado, peguei a estrada, tinha um compromisso fora de Santa Maria. Como estava de carona, tive a oportunidade de observar melhor a paisagem, porque não foi preciso estar com a atenção voltada exclusivamente para a estrada, desviando dos buracos ou dos motoristas não muito atentos. A viagem era longa, paramos num posto de gasolina para abastecer e aproveitei para comprar um café.
De volta à estrada, escutando Bon Jovi, acompanhei o entardecer, o dia colaborou, estava lindo, apesar do calor excessivo, que já deu uma ideia de como será o próximo verão. À direita era possível ver o sol, muito vermelho, se encaminhando para o horizonte, deixando as nuvens ao redor com matizes que iam do vermelho alaranjado, passando pelo rosa, até chegar no roxo, conforme a luminosidade diminuía. Uma imagem digna de ser retratada. Do outro lado, à esquerda, sem tantas cores, contudo não menos bonita, surgia a lua, quase que totalmente cheia, muito brilhante em contraste com um céu azul celeste.
Quando acabei de tomar meu café, só então percebi a frase que estava escrita no copo de papel: "curta a trajetória mais do que o resultado". Essa frase me fez lembrar do livro Superando Limites, do professor Gretz, da Universidade de Santa Catarina, que fala que a jornada, o caminho percorrido, é mais importante do que a chegada, uma vez que a felicidade está na trajetória. Ela é o momento presente, enquanto que a chegada é um ponto distante e futuro. É percorrendo o caminho que adquirimos conhecimentos e experiências que contribuirão para o nosso crescimento pessoal. Na essência, a frase do copo de café é um resumo da mensagem do livro que, dentre outras coisas, diz que a felicidade é composta por pequenos momentos: na convivência com os outros, no trabalho ou no lazer, na paisagem encontrada a cada dia, seja com sol ou chuva, com frio ou calor, seja de dia ou à noite, cada momento tem a sua beleza, basta estarmos dispostos a observar e aproveitar.
Então, olhei para os vários caminhões que estavam na estrada e pensei que aquela frase não seria muito fácil de ser praticada por aqueles que vivem na direção daqueles veículos, com longos períodos longe de casa e da família, enfrentando todas as categorias de perigos. Os caminhoneiros têm uma vida bastante movimentada, com muitas aventuras, experiências e desafios, mas também de muitas tristezas, principalmente para quem atravessa o nosso país de norte à sul, pois as estradas são os locais que apresentam os maiores índices de mortes.
Segundo o Conselho Federal de Medicina, em reportagem publicada no G1, a cada hora, cinco pessoas morrem em acidentes de trânsito no Brasil e mais de 1,6 milhão de pessoas ficaram feridas nos últimos dez anos, ao custo de quase R$ 3 bilhões de reais para o Sistema Único de Saúde. Portanto, mesmo que os dias nas estradas possibilitem paisagens lindas, curtir a trajetória é, sem duvida, um esforço diário, pois além da direção de caminhões gigantes exigir muita atenção e concentração, o que não possibilita muito tempo para a contemplação das belezas que a natureza nos oferece diariamente, o número de acidentes diários, com certeza, apaga o brilho do mais lindo pôr do sol.